O que é design?
Uma definição muito ampla e propagada caracteriza o design como a disciplina responsável por modificar o natural através da construção do artificial.
Na Primata, de forma mais objetiva, nós gostamos de definir o design como uma abordagem holística para transformar a realidade a partir da intersecção entre ciências, tecnologias, humanidades e artes, sempre considerando outros fatores transversais como sustentabilidade, ética e visões de futuro.
Como um instrumento essencialmente criativo e propositivo para inovar, é importante destacarmos que a própria realidade se modifica intensamente com o passar do tempo, e essa transformação tem acontecido de maneira cada vez mais dinâmica e profunda.
Por conta desses fatores, também podemos afirmar que o design nunca “é”, o design sempre “está”, e as constantes transformações, adaptações e evoluções também são características do design.

Design ancestral
Um bom design se conecta com as pessoas para além da usabilidade.
Quando falamos em design não estamos nos referindo apenas ao desenho de um produto, mas sim ao conceito mais profundo que envolve a criação e o desenvolvimento de algo que se conecta com as pessoas para além da usabilidade, em um nível simbólico e emocional.
O design ancestral busca compreensão nas raízes humanas, e naquilo que nos moldou como espécie ao longo dos tempos, para produzir produtos e culturas que se tornam uma extensão natural de nós mesmos.
A maioria dos artefatos e ferramentas ancestrais se perderam por conta dos materiais utilizados, mas a Cultura Acheuliana e a tecnologia Olduvaiense indicam que nossos ancestrais distantes também uniram forma, função e simbologia para criar objetos que continham valor para além do uso prático.
A “machadinha de mão” ancestral
Nossos antepassados já criavam ferramentas mais sofisticadas há mais de 2 milhões de anos, e são essas ferramentas que trazem questionamentos que nos intrigam e nos inspiram até hoje.
Para além das utilidades práticas como defesa, caça e aplicações em trabalhos específicos, essas machadinhas de mão, em formato de gota, possuíam detalhes e simetrias que continham esmero, cuidados e lapidações para muito além do “necessário”.
Esculpidas cuidadosamente como verdadeiras joias, elas nos fazem considerá-las também como objetos de ostentação, indicando uma descendência ancestral na nossa preocupação com a beleza e a forma.

Sinergias com o nosso tempo (e o futuro)
Por que as vezes nos sentimos mais felizes e confortáveis em um ambiente singelo, do que em um lugar super descolado que foi desenhado especialmente para agradar? Nem sempre conseguimos explicar de maneira clara e objetiva.
O fato é que essas conexões profundas nos acompanham desde os primórdios, e fazem parte de todos nós, Primatas, o que deixa evidente a necessidade de explorarmos os atributos simbólicos com tanto rigor quanto elementos objetivos e funcionais, em qualquer projeto de design, seja ele físico, digital ou imaterial.
Não é por acaso que muitos designs minimalistas e discursos vazios — como por exemplo os princípios, valores e missões das empresas, ou mesmo campanhas publicitárias — acabam caindo facilmente no esquecimento, sob o falso pretexto de “agradar a todos” ou de “usar a simplicidade para promover a usabilidade”.

Por mais que o designer se apoie em novas tecnologias para oferecer inovações, esses fatores mais subjetivos podem ser determinantes, ou pelo menos grandes potencializadores na construção significativa da relação entre pessoas e marcas, evitando que um bom produto ou uma grande tecnologia se torne apenas uma bugiganga insignificante.
Tudo isso reforça a importância do aspecto holístico do Design, que muitas vezes é direcionado exclusivamente para estética, inovação tecnológica, diferenciação no mercado, acessibilidade, ou custos de fabricação... e acaba desperdiçando infinitas possibilidades de gerar produtos que verdadeiramente se conectam e transformam a vida das pessoas.